quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ainda Hulk e Witsel


Quando a discussão em Portugal anda ao rubro para perceber quem lucrou mais financeiramente com as vendas de Hulk e Witsel, decidi colocar a questão por um lado que me parece bem mais interessante, o que perdem ou ganham desportivamente FC Porto e SL Benfica com a saída dos seus melhores jogadores.

HULK
A saída de Hulk do FC Porto significa, acima de tudo, a perda do melhor jogador que Portugal viu nos últimos anos e isso já diz tudo. Hulk é um jogador tremendo e que muita falta vai fazer ao futebol português e em especial ao FCPorto. Não vou na conversa daqueles que acham desesperante não ter sido contratado ninguém para substituir o brasileiro, pela simples razão de que não existe ninguém com as suas características e seria um caminho "perigoso" tentar entrar por aí. Um jogador como Hulk, simplesmente, não pode ser substituído por uma "tentativa" de imitação e, nesse sentido, a mudança do FC Porto pós Hulk tem, obviamente, de ser colectiva.

Não concordo, também, com aqueles que dizem que com a saída de Hulk, o FC Porto perde um líder. Não me parece que essa seja a melhor descrição do brasileiro, pois nunca foi a sua personalidade ou forma de estar. O FC Porto perde imenso com a saída de Hulk, perde poder de explosão, perde criatividade, perde força, perde talento, perde imprevisibilidade e perde um jogador que sozinho é capaz de vencer jogos tal como se viu em épocas anteriores. O FC Porto perde um jogador único e que faz a diferença em qualquer posição do campo, mas um líder nato o FC Porto não perde, pois isso Hulk nunca foi.

A saída de Hulk, embora complicada para o FC Porto pode ter um lado positivo - além do financeiro - pois permite aos campeões nacionais explorar e exponenciar o seu jogo colectivo. O FC Porto, que até agora tinha em Hulk a sua principal referência, refugiando-se - com algum excesso - no seu talento para muitas vezes se esconder dos problemas, precisa agora de perder velhos hábitos e saber dar resposta às contrariedades de forma colectiva. Jogadores como James Rodriguez, João Moutinho, Lucho Gonzalez, Jackson ou até Danilo e Alex Sandro serão obrigados a um papel ainda mais importante no jogo da equipa e o trabalho do treinador Vítor Pereira terá de ser agora ainda mais profundo. Ao mesmo tempo, os jovens valores que crescem na equipa - Atsu, Iturbe e Kelvin - ganharão o espaço suficiente para se imporem e mostrar o seu futebol e jogadores como Varela poderão voltar a ter o protagonismo entretanto perdido. O FC Porto tem a oportunidade de potenciar de outra forma alguns dos seus talentos e "revolucionar" o seu futebol colectivo com base nas capacidades e características do seu plantel - não será o 4-4-2 uma solução? Tem a palavra Vítor Pereira!



WITSEL

Bem mais problemática do que a saída do brasileiro do FC Porto é a saída do belga Witsel da equipa da Luz. Se já tinha ficado a ideia de um plantel  desequilibrado e com dificuldades em render - sem ter ido ao mercado - a ausência de Javi Garcia, o que dizer da saída de dois elementos fundamentais do meio campo de Jorge Jesus. Witsel era, até agora, o jogador mais importante do SL Benfica e peça chave no desenho táctico dos encarnados. Se isso por si só já seria uma grande perda, a juntar à saída do espanhol significa um enorme rombo nas opções do treinador português.

Witsel é um jogador que desempenha quase na perfeição as suas funções dentro do campo, que raramente tem um jogo menos bem conseguido e que oferece aos companheiros do sector ofensivo uma enorme liberdade de ataque pois estes confiam na sua fabulosa capacidade de recuperação e ocupação dos espaços. O belga era, sem dúvida, o melhor jogador do campeonato português a desempenhar estas funções. Esta forma de jogar de Witsel foi, ao longo da época passada, essencial para que o caudal ofensivo do SL Benfica - como se sabe bastante elevado - não desequilibrasse a equipa aquando das perdas de bola. O belga tinha não só o papel de recuperador como de municiador do ataque, ou seja, era o primeiro a recuperar posição defensiva e na hora de atacar era o primeiro condutor de jogo, tendo ainda a capacidade de aparecer muitas vezes na hora de finalizar. Em suma, o SL Benfica perde um médio completo e de eleição.

Mas o maior problema da saída do belga foi mesmo o timing - coisa contra a qual o SL Benfica nada podia fazer. Se o meio campo do SL Benfica já se mostrava curto e desequilibrado apenas com Matic, Carlos Martins, Witsel, Aimar e possíveis adaptações de Enzo ou Bruno César, com a saída do numero 28 as coisas complicam-se bastante para Jorge Jesus. Para começar, o sistema de duplo pivot que estava a ser usado como alternativa à saída de Javi Garcia deixa de ter efeito pois deixam de existir jogadores capazes de desempenhar essas funções. A possível solução do SL Benfica vai passar por adoptar novamente um estilo de jogo com um médio defensivo, onde Matic, que poucas oportunidades teve com Jesus, passará a ser indiscutível por falta de outras opções. A partir daí, e para as restantes duas posição do miolo, sobram as opções Carlos Martins e Aimar, que embora sejam jogadores de enorme qualidade têm uma capacidade física que limita a sua utilização. Numa época que vai ser longa e cansativa - quatro competições oficiais -, o treinador Jorge Jesus vai necessitar de muita "ginástica" para fazer render o seu meio campo, principalmente na Champions League. Entretanto, há que aguardar pela reabertura do mercado - Janeiro 2013 - para voltar a equilibrar a equipa.


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